terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A Cor da Flor - Capitulo 1: Na Vó


Capitulo 1
Na Vó
Acordei às dez da manhã de um domingo ensolarado. Sentia uma leve dor nas costas e pescoço devido há horas frente à TV do quarto, mais precisamente à posição preferida e torta, da qual sento na cama diariamente pra ler, assistir filmes, etc. Na cozinha, coloquei água pra ferver, acendi um cigarro no caminho do banheiro, e lá, como num exercício religioso, sentei e pensei em nada. Nos primeiros instantes acordado, não penso em nada, mas conforme a brasa chega mais próxima aos meus dedos, aquecendo, ou às vezes queimando-os, é que começo a organizar as tarefas do dia. Por ser domingo um dia de nada pra dever, demorei pra pensar, a brasa não queimava e só dei conta de algo ao ouvir o fervor d’água. A primeira tarefa do dia era preparar um café melado. Apesar de dependente, tomar a qualquer hora e lugar, quente ou frio, nenhum pode ser mais prazeroso que o café que preparo à gosto. Em raras visitas a casa da vovó, mal recebo os cumprimentos e já estou na cozinha a fumegar um cafezinho, que depois de pronto haja cigarros pra dar efeitos aos contos da velhota.
“... e uma vez fui presa junto com seu tio, ele só tinha catorze na época, acho. Foi junto comigo receber alguns pro seu avô em Jacutinga. O Blota, amigo do seu avô, tentou avisá-lo a tempo de não irmos, mas já era tarde. Chegando lá, logo na entrada nos pegaram, fiquei lá um dia. Seu avô, que o diabo o queime, pediu pro amigo pegar seu tio na delegacia, nem apareceu por lá, acho que tinha mais medo de mim do que da polícia. Só escapei dessa depois de um dia, quando veio o delegado, um moço bonito que me perguntou se eu gostava de ajudar aos pobres. Bem, disse-lhe logo que sim sem hesitar e sem mais nem menos fui solta dali. Nunca, nunca mais falei disso com seu avô e também jamais o perdoei. Agora que ele tá morto...”
Tomei café, liguei pra vó, avisei-lhe sobre a visita e pedi que fizesse farofa de cenoura pro almoço.
“... parece até que adivinhei que você vem. Devo estar com sorte! Será que é hoje que acerto no jogo? Vou fazer a farofa sim, pode vir...”

Nenhum comentário:

Postar um comentário