domingo, 31 de julho de 2011

Passos

Passos, passos, passos... Ando pelo asfalto, mas não sou carro, borracha, ou bolacha, sou gente, quente, que sente e chora.

Uma musica que me passa, não passa, mas altera minhas perspectivas, minha visão e meu coração.

Seu Adolfo, eu posso ir? Já são sete e vinte e cinco, e estou cansada.

Cinco minutinhos pra um cafezinho, Seu Adolfo? Vai. Um cigarrinho Seu Adolfo? Tudo bem... Seu Adolfo? Pode ir... Espere mais um pouco Marta, pois estes minutinhos à mais não vão te matar, não é mesmo?

Seu Adolfo, eu acho melhor o senhor procurar outra pessoa, pois estou farta dos seus minutinhos a mais. Quer saber de uma coisa, Seu Adolfo, to fora! Fora!

Espera Marta, não me faça isso, pelo amor de Deus...

Deus. Deus? Que Deus, Seu Adolfo? Você vive me dizendo: Martinha, meu docinho, não reze muito, pois quem muito reza, acaba na sarjeta. No mundo só há lugar pra dois tipos de gente: os espertos como eu, e as mulas como o Vanderlei, mas para os que rezam como você, Martinha, só há lugar no céu. Poupe-me, Seu Adolfo. To fora, fora!

Martinha, meu coração...

Ai, Martinha meu coraçãozinho, pede pro Seu Longuinho achar minha pastinha, pede... Dou um pulinho, lá no Banco do Brasil, saco um dinheirinho, e oh Martinha, te dou uma gorjetinha... Francamente Seu Adolfo, estou farta de você, do seu dinheirinho, do escritoriozinho, da sua mulherzinha e do seu focinho. Tchau, Seu Adolfo. Fui.

Desgraçada, se não fosse a bunda, juro que matava!

Passos, lágrimas e frio.

O seu filho está nas drogas, te responde, ele te rouba, mente pra você, você já está farto, farto das mentiras, você está a ponto de perder a cabeça e matar seu filho ou se matar, seu casamento está na naufragando, seu amigo te passou uma rasteira, sua mulher te trai, você bebe e chora, bebe e chora... Meu Deus, quando isso vai acabar? Eu quero morrer Meu Deus, eu quero morrer! Mas Ele não olha por você Ele não existe mais, Ele se esqueceu de você, do seu filho, da sua família, de tudo... É CULPA DELE... DO DIABO... DO SATANÁS! Sai daí meu filho, saia já, por favor, meu filho eu lhe imploro, venha pro reino dos céus, o único e verdadeiro reino da verdade, da paz, da harmonia e do sucesso. Reerga a cabeça, meu filho, pare de sofrer, pare de sofrer... Senhor pelo poder de sua fé salve este filho, salve está alma imunda deste pobre, pelo poder que lhe foi concebido, que me foi concebido, SAIA JÁ! ALELUUUIAAA!

Asfalto, chuva e respiração. Passos, passos, passos e musica. As luzes “amarelo-sujas”, os bichinhos das luzes, as cruzes, os prédios, as casas em ruínas, as mulheres quase nuas, as ruas sujas, os fios e restos de pipas.