terça-feira, 27 de julho de 2010

Olhares pra mim.

Enquanto muitos olhos me vêem sem dizer nada. Enquanto muitos verdes são belos e que por mais belos, os azuis soam como o mel que explode das jabuticabas. O teu não tem cor. Mas me diz tudo e enxerga-me tão bem quanto eu não me posso imaginar. Despi-me dos cabelos às veias que me irrigam. E eu interrogo-os para saber mais de mim. Eles fazem mistério. A partir daí, torna-se um vício sentir-me olhado. Torna-se vital. É tudo o que cura o desespero que me mata. Somente através dos teus olhos eu vivo. Não demora! Não durma muito! Não feche os olhos pra mim! Não morra! Debaixo deste espelho, destas profundezas límpidas eu não vejo mais que um ser capaz de fazer sorrir de raiva e chorar de felicidade. Capaz também, de dizer sim aos próprios sentimentos, mas incapaz de me olhar enquanto mente sobre si. Será verdade que quando tudo pode desabar somente o amor pode equilibrar? Porque o amor é tão alucinante no início, mutante em seu meio e destrutivo em seu fim. Contudo é certo que alguns pensam assim quando não há mais nada além deste sentimento para lhes segurar do abismo. Não! (Respiração exageradamente desequilibrada. Abro os olhos. Tento me lembrar de você, mas nem sei que você existe.) “Nada a ser feito!” (A última fala - em aspas - é retirada da peça teatral "Esperando Godot" de Samuel Beckett.)

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Não tem título.

Existe um homem nu, morto e estirado num lugar qualquer. Fora isto, não existem árvores, vento, seres vivos, enfim, nada! Seu corpo muda de cor constantemente e não se pode saber de quanto em quanto tempo, pois o tempo também não há. Existe luz, mas não se tem Sol. Esta luz também constante não se sabe de onde vem. A temperatura deste lugar não varia, não é fria, não é quente e também não agrada. Não se escuta nada, pois nada há para escutar. E continua a existir um corpo morto que muda de cor em um lugar qualquer.
VERDE – AMARELO – VERMELHO – AZUL – BRANCO – COR-DE-PELE
Além disto, não existe nada, porque não há nada mais pra existir.
E o lugar? Se existe um corpo morto, existe um lugar e se existe um lugar existe algo neste lugar. Sim! Um corpo morto que muda de cor. Mais nada!
E a luz? Se existe cor, existe luz – mas repito: não se sabe como existe e de onde vem e, não varia.
Não esquenta, não esfria, não agrada, não venta, não respira... Não se vive e não se vê. Apenas existe!
Onde? Em qualquer lugar...

terça-feira, 20 de julho de 2010

Resoluções do Além.

Ao pedido de um anjo de cabelos negros e brilhantes, olhos cor de mel e vestido de retalhos brancos eu me volto aos pensamentos hoje. Ele me apareceu durante os sonhos pra me revelar coisas fantásticas das quais eu só poderia prever em contos de fadas. Disse-me ele: Tudo o que se vê e o que se sente nada mais são do que a forma que a vida lhe mostra suas sutilezas e espinhos. Que podes fazer tu desta vez? Tomar uma direção que te leve o mais perto possível do imaginário poderá ser a melhor saída de encontro às pedras. “E as pedras?” Essas são aquelas em que todos sentam pra descansar e depois retomar a caminhada árdua sob um Sol quente e energético. “O que fazer com as duvidas?” Permita-se resolvê-las e não questioná-las!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A Calçada e o Homenzinho.

Eu sou apenas uma calçada. Por mim, passam todos os dias solados finos, solados pobres, ora limpos, ora sujos. Pisam leves, suaves, fazem cócegas e também correm. Outros passam fortes, duros e machucam sem dó. Nem me notam, nem me vêem... Sirvo de colchão para pobres miseráveis e cachorros de todas as raças vira-latas. Mas te digo que meu corpo é feito de preto e branco, e em algumas partes acinzentado. E te digo também ouvir dizerem as línguas mais insanas – que de tão insanas me lambem – que pra nascer eu tive de ser superfaturado. Mas não posso me alongar até certa estradinha medíocre, onde dizem as mesmas, haver uma casinha sem cor, sem vida, e que lá, apesar de suas reles visões, existe um coração que bate como a marretada d’um romântico e forte carpinteiro. E é só por isso que me agradam estas tais línguas que me lambem.
Dizem elas então: “... ele é tão digno de pena que nem mesmo um pássaro chega a lhe fazer companhia ao soar do dia...”
Apesar disto, eu irei dobrá-las, sacrificá-las, persuadi-las e dominá-las para espremer de suas glândulas todas as gotas de saliva por ele. Sim, farei isso e não me estranhe, pois logo vão me entender e o porquê de tanta curiosidade. Vão entender também que boa parte do que elas dizem são palavras sem sentimento e que falam por falar, sem o mínimo julgamento, mas eu que sou apenas uma calçada de segunda mão consigo decifrar-lhes o veneno e fazer dele o mel que embalsama as rachaduras da alma.
Naquele dia de praxe e Sol quente me refrescavam elas com seus venenos de mel. Elas citavam a rotina estranha e pacifica do pobre homem. Diziam elas: Ele acorda pela manhã e sai pela porta do fundo lavar as mãos no tanquezinho. E ao secá-las muito bem com o auxílio de uma toalhinha suja por entre os dedos, como um exercício religioso e maçante de todos os dias de sua vida, o mesmo torna a sujá-las. Não lava o rosto como os outros e nem escova os dentes. Então ele se senta sob uma única árvore que sombreia a casa e muito insignificantemente. Seus olhos parecem mirar algo inexistente naquele lugar forrado de mato verde agonizante. Parecem ver o horizonte como se o mesmo fosse concretizado em um paraíso existente somente ali, para ele. De vez em quando ainda se esforçava para alongar-se em saltos numa vã tentativa de agarrar algumas folhinhas da árvore infrutífera. "Causa-nos tédio a sua falta de agressividade." Segue para dentro, volta e começa um longo dia sem se ver o pobre novamente voltar à dependência interna da casa. Ali mesmo, martela, serra, cola e lixa, e tudo mais que se pode notar num trabalho árduo. Não pára por nada e não se vê resultado. É como se a matéria se desmaterializasse numa mágica tão perfeita que nem se nota a magia. É digno de dó apesar da magia, pois do que vive este homem se nada come, nada vende e nada compra. Seria ele um anjo de Deus que seguindo ordens desce a Terra para viver assim, estranhamente infeliz. E o que me intriga: como podem as línguas tecerem tal idéia de infelicidade se nem ao menos chegaram perto do homem? Como podemos designar tal infelicidade gratuita a alguém que mal conhecemos além da vista? Por que o trabalho gratuito é sinônimo de infelicidade, e será que existe trabalho insignificante a tal ponto de ser gratuito? Línguas falam, mas não tecem. E por falarem demais sempre tomam caminhos obscuros e mal assombrados. Prefiro os pensamentos que tomam caminhos malditos, mas se encontram mais tarde numa nascente de água cristalina, com um Sol radiante refletindo em suas águas rodeadas de mata virgem e riquezas mil. Um paraíso que só podem usufruir os pensadores gratuitos, como o nosso homenzinho.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sopro.

Isso tudo é só um sopro,

Não se iluda por tão pouco,

Seja eterno pra seguir,

Seja lento pra subir,

E não caia em desespero.

-

O pranto persegue um caranguejo,

Que despertou em si todo o medo,

Que se transformou em sujo desejo,

Que se fartou tão voraz e sedento,

Da fatalidade d’um pobre marinheiro.

-

Encante como a flor que morre,

Pois mesmo morta te socorre,

Do horror de viver sem tê-lo,

De viver por viver querendo.

-

Encontre nas cores a mais bela palavra,

Que lhe despertará uma simples melodia,

Que lhe fará mais humilde à serventia,

E mostrará como é lindo este abracadabra.

-

Os magos jogam dardos,

Luz de cegar-lhe as vistas,

Energia que te incendeia,

A vida que lhe treme os dedos,

E te mostram todas as pistas.

-

Siga-as então sem medidas,

Siga-as sem ter mais saída,

Siga por toda sua vida,

E não finja estar de partida,

Pois é tão vera a lágrima contida.

-

Por muitas vezes você buscará,

Numa próxima estação descerá,

Sentirá tão forte o coração,

E não morrerá por isso em vão.

-

Pois há mais planos a se descobrir,

Há mais vidas a se provar,

Mais encantos pra te permitir,

Encontrar um novo lugar.

-

Quem é você, quem tu és,

Quem me viu, te verás,

Quem está, pode chegar,

Se me queimam agora,

Mais tarde hão de te achar.

-

Se te vou aos pensamentos,

É porque podes me escutar,

Se te peço mais vontade,

É porque longe podes chegar.

Uerê.

Queria ser uma canção,

Mas não é fácil,

Dar cor ao ar,

Mais vida ao mar,

E te tocar o coração.

-

Uerê,

Quando o Sol baixar,

Eu vou sonhar com você.

-

Uerê,

E quando o Sol raiar,

Eu vou voar pra viver.

-

Escrevo uma estória,

E leio ao relento,

Mas se contraditória,

Vou jogá-la ao vento.

-

Saiba por encanto,

Que bem posso estar,

Tão longe o quanto,

Enquanto respirar.

-

Minhas asas são do bem,

Não podem levar,

O ar e o canto,

Enquanto precisar,

Sonhar com meu bem.

-

Uerê,

Quando o Sol cansar,

Eu vou estar com você.

-

Uerê,

E quando o Sol raiar,

Eu vou voar pra te ver.

Paradoxo da Vida.

Percebo e não preciso que me digam, pois sinto tão claro que chego até a pensar que me engano. Mas ao pôr do Sol, mais uma vez eu terei a certeza de que valeu a pena mesmo não sendo assim.
Assim que todas as minhas lágrimas encontrarem saída segura e restrita as quatro paredes de um quarto perdido por entre o mundo de pedras e encontrar saciedade em sofrer por esse amor. Assim que meus lábios secos de sede e articulando frases, palavras e gemidos abafados por um travesseiro velho, porém revestido dignamente, eu vou encontrar alguma saída pro meu amor. Eu sei que vou. Por que se for para viver e não poder mais amar mesmo sabendo que o amor tem suas malícias e seus venenos eu prefiro não mais ser.
Posso ficar mais frio, mais duro, mais feio, mais magro ou mais gordo e até perder um dente. Posso desejar a morte, tragédia, infelicidade, o lado mais perverso de mim, mas sei que quando ele voltar não há escudo que me proteja, pois desse mal é que eu quero morrer.
Espero, espero, espero por você, pelo meu amor e pela verdade.
Do mais, meu nome é Amante. Não procure uma fonte qualquer para isso, pois eu jorro água límpida da verdade pelos olhos. Da minha verdade!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Até mais sonhar...

Sentado sob as idéias do que te escrever, um pássaro, apenas um costumeiro passarinho, real e distraído, banha-se numa nascente. Posso sentir as águas que lhe circundam e que, portanto me limpam a mente. Isto mesmo! É tão bom ver algo comum, que mesmo assim parece novo e acalma.
Inspirado, no momento posso escrever-lhe com uma pena e incapacitar este pássaro de um vôo mais alto, roubando este sonho todinho pra mim. Mas não me interessa voar em sonho alheio e banhar-me em nascentes. O importante se faz em poder ver isto, sentir-me um ser livre e perfeitamente capaz de sonhar meus sonhos e dividi-los até mesmo com um pássaro.
Há algum tempo, me recordo à vontade de soltar todos estes seres limitados por gaiolas. Se me fazia incapaz disto, é porque talvez ainda não soubesse voar como os livres. Mesmo hoje me encontro incapaz de tal façanha, pois circundados por arames foram proibidos de banhar-se em nascentes e por isso afundarão. Pobrezinhos! Mas este que aqui está livre e limpinho me descreve um “gran finale”: “Obrigado por me notar! Até mais sonhar...”

Me empresta teus olhos?

Eu posso te ver, sei que você está presente e me sente tão somente como permito, pois na realidade estou tenso demais por dentro, tão tenso que se você soubesse se afastaria e eu correria o risco de nunca mais poder te ver. As coisas simples como são já não me atraem mais tanto como quando nasci. Vivi por entre serras nas estradas, brincando ora num playground, ora numa tuia, sem saber que o que sempre procurei está agora a me notar, sem me tocar. Posso saber o porquê do seu silêncio, os seus fingimentos, o que se passa por sua cabeça, enquanto eu aqui sentado sem dizer uma única palavra convincente não tenho por onde seguir. Queria seus olhos poder ter, ser você, mas não te roubar a alma ... não! Jamais! Queria sentir como é respirar a pura liberdade de expressão e sentir que tudo corre bem e seguro lá fora. Isto eu não posso pedir emprestado, nem mesmo comprar em uma lojinha. Isto é a vida simples como ela é; bela, óbvia e gratuita. Eu nunca desisto de você!